Criatividade massacrada

De vez em quando, comento ter percebido que a escola acabou com minha criatividade. Seguindo literalmente a orientação de «com base no texto lido, faça a sua redação», eu fazia o maior esforço para escrever uma coisa parecida com o bendito texto lido - e escrevia algo muito parecido, só um pouco diferente: em lugar de duas pombinhas conversando no parapeito (do "texto lido"), eram dois pardais, no máximo. A maravilhosa cópia falsificada, que eram minhas redações de escola, era lida com o entusiasmo de quem julgava ter conseguido uma grande coisa: não sair dos "parâmetros" do «texto lido».

Só muitas lições mais tarde, quando um dia me espantei com a redação de uma colega (que pra mim não tinha nada a ver com o «texto lido»!!!), acabei me espantando mais ainda ao ouvir o professor comentar que aquela era uma boa redação! Foi um grande desapontamento, pois descobri ter perdido tempo e esforço me restringindo por tanto tempo ao «texto lido».

Erro do material didático? Talvez. Certamente uma falha do professor, que percebia muito bem a falta de criatividade das redações e não incentivava a turma a melhorar.

Descobri mais: o potencial daquela turma de crianças jamais foi desafiado. Quem era bom em matemática se destacava e ficava tudo por isso mesmo, os outros alunos só podiam ficar invejando as notas alheias e lamentando sua "burrice". Considerando que alguns destes últimos posteriormente se graduaram em administração, as notas baixas daquele tempo remoto não refletiam realmente uma condição de incapacidade...

Além de tudo, algumas tarefas multi-disciplinares acabavam sendo fonte de tormento - quem não sabia desenhar poderia acabar com uma nota baixa em francês, por exemplo - e muitas vezes a situação terminava em trapaça, com tarefas sendo feitas por alunos mais talentosos ou mães preocupadas.

Por tudo isso, admiro os esforços que alguns professores faziam para abrir nossas cabecinhas já semi-formatadas pela educação em lote.

Contudo, lamento profundamente o massacre que se faz da individualidade e da criatividade das crianças - pelo que tenho sabido - ainda nos dias de hoje.

1 comentários:

Marcia Ceschini disse...

Mary, o método que fomos ensinado era mesmo uma lástima.. é o método mastigadinho, o aluno não era estimulado a pensar e ter uma análise crítica. Uma pena mesmo.
Creio que em algumas escolas ainda é o sistema Henry Ford.. padrão.. pensamento X e só...
por isso me esforço para estimular e dar mais ao Gui. É uma geração mais inteligente e multimídia...portanto exigem dos professores.
Ótimo texto seu.
:*